Um estudo recentemente publicado na revista Nature Neuroscience
elucida de que forma o cérebro regula as sensações de fome e apetite.
Porque gostamos mais de guloseimas quando fazemos dieta para perder
peso? Uma hormona explica: a leptina.
Neste trabalho esteve envolvida Ana Domingos, ex-aluna do Programa Gulbenkian de Doutoramento
em Biologia e Medicina, actualmente na Universidade de Rockefeller, em Nova Iorque.
Em entrevista ao *Ciência Hoje,* a cientista explica que a investigação,
feita em ratinhos,*"poderá direccionar a clínica para a terapia de
substituição hormonal durante as fases iniciais da dieta"*.
Segundo Ana Domingos, quando fazemos dieta e perdemos peso ficamos mais
gulosos, ou seja, mesmo sem fome temos vontade de comer coisas gostosas,
como um pastel de nata ou mousse de chocolate. *"Este é um desvio do
comportamento que popularmente é atribuído à falta da força de vontade,
mas eu pensei que deveria de haver uma base biológica para esta
alteração do comportamento"*, diz.
Assim, a equipa da Universidade de Rockefeller procurou encontrar esta
base biológica e a conclusão a que chegou é que a leptina controla não
só a sensação de fome, que se pode tentar enganar com truques
dietéticos, mas também o quanto gostamos de determinados alimentos,
principalmente os açucarados.
A leptina diz ao cérebro quanta gordura temos, fazendo com que este não
varie nem para cima nem para baixo. À medida que perdemos peso baixa a
concentração dessa hormona produzida pela própria gordura que tanto
queremos abater. A leptina foi descoberta em 1994 no laboratório de
Jeffrey Friedman, mentor de Ana Domingos, que também está envolvido na
investigação.
A leptina controla o quanto gostamos de alimentos principalmente açucarados
*"Pacientes deficientes desta hormona são extremamente obesos e sentem
uma fome insaciável, pois o sinal da presença da gordura não existe. O
mesmo acontece em vários animais deficientes de leptina. Nestes
indivíduos, uma terapia de substituição da leptina normaliza tanto a
sensação de fome como o peso e o metabolismo basal"*, explica Ana Domingos.
No entanto, assinala a bióloga,*"a maioria dos pacientes obesos não são
deficientes de leptina, cuja abundância excede em muito os valores
normais. Muitos destes pacientes adquiriram resistência à presença da
leptina, tornando ineficaz uma terapia à base desta hormona para o
controlo da fome e metabolismo"*.
*Terapia de substituição hormonal*
Uma das consequências deste estudo pode ser a aprovação, pelas agências
reguladoras, de um ensaio clínico de terapia de substituição hormonal da
leptina em pacientes que devem perder muito peso. *"Espera-se que uma
terapia destas seria muito útil nas fases iniciais da perda de peso,
podendo ser doseada em função da resposta do paciente"*, refere Ana
Domingos.
Os próximos passos na investigação da equipa da Universidade de
Rockefeller será perceber melhor porque gostamos tanto de açúcar. *"Está
cada vez mais claro que o nosso corpo detecta nutrientes não só através
da língua, mas também através de mecanismos pós-injestivos ainda por
identificar. Daí que, em média, as pessoas não gostem de adoçantes
artificiais. Estes têm uma acção na língua idêntica à do açúcar, mas
falta-lhes a tal acção pós-ingestiva"*, explica a cientista.
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